Blogger news

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PIBID/CAMEAM- Despedida dos bolsistas e socialização das atividades realizadas pelo projeto de 2009



O momento é para agradecer a vivência, a experiência e o aprendizado junto ao programa PIBID do DLV/CAMEAM. O projeto foi provado em dezembro de 2009 e renovado em julho de 2011.
No dia 16/12 foi a confraternização natalina dos bolsistas, supervisores, coordenadores e convidados. Um momento muito significativo e que contou com a participação especial da Profa. Socorro Maia (DLE/CAMEAM), da secretária Marta Jacinto (DLV/CAMEAM) e da Profa. Supervisora Conceição Carlos (da escola campo do PIBID).
Entre felicitações e degustações já reina um ar de saudosismo do PIBID/2009... 

(Fátima Carvalho- Coordenadora do subprojeto)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O teatro na escola

O PIBID irá desenvolver na Escola Estadual Profª Maria Edilma de Freitas, o projeto Teatro na escola, com o objetivo de trabalhar a desenvoltura do aluno para a prática e analise das artes a fim de criar uma boa capacidade de comunicação e interação social. 
           O teatro é um jogo de expressão corporal e poético, é uma maneira de resgatar a história cultural do homem, assim como as artes em geral, nos proporcionar prazer e divertimento, além de nos ensinar sobre o mundo é um mecanismo poderoso de internalização das normas sociais. É a expressão mais antiga do espirito lúdico da humanidade. Nasceu da necessidade de expressão e comunicação, ele existe dentro de cada um de nós, pois somos seres essencialmente teatrais.
 No contexto de sala aula, permite também uma melhor interação do aluno com o texto literário exigindo uma leitura mais criteriosa que vai muito além da decodificação, possibilitando um conhecimento mais amplo acerca do que está no texto, o que consequentemente pode estar contribuindo para que o aluno se torne um cidadão crítico capaz de compreender textos diversos e de agir como tal nos diversos contextos sociais.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Sidileide Batalha na premiação em Assú

Nesta semana foi publicado na página Libertária um conto da bolsista efetiva do PIBID Sidileide Batalha. Libertária é uma página virtual do estado de São Paulo que partilha poesias, contos e crônicas de escritores renomados de todas as regiões do Brasil. O conto publicado foi O cientista. O mesmo conto ficou em segundo lugar no 1º concurso Assuense de literatura e foi publicado no livro Escrínio da Literatura Potiguar. O cientista, conta a história do Dr. Rafael, um médico que julga-se culpado pelo falecimento da esposa e encontra conforto no trabalho.
Isso é guerra que mostra o dia a dia de um soldado na segunda guerra mundial é outro conto da bolsista que foi selecionado após concorrer com alguns contos de escritores da cidade de Pau dos Ferros para ser publicado na revista e no livro Cruviana da cidade de Mossoró/RN. O lançamento do livro será no mês de agosto. Você pode conferir abaixo o conto O cientista.
O cientista
Estou embaixo do chuveiro. As gotas de água batem no meu corpo lentamente. Estou olhando para os meus pés. Vou até o espelho e penteio o meu cabelo cuidadosamente para trás. Ligo a torneira da pia e jogo água no meu rosto, ela se mistura com as lágrimas que não vem. Saio do banheiro e passo pela cozinha. Por um instante tenho um deslumbre dela segurando uma xícara de café, estou com pressa e não reparo. Pego minha pasta e ligo o carro. No caminho até o meu trabalho, olho as árvores, hoje elas estão bastante verdes. “Deve ser primavera”, pensei. Eu não sei bem em que dia estou, por que não tenho mais noção de tempo. Observo algumas crianças brincando no parque.  Reparo em um casal de namorados, eles aparentam serem felizes. Imagino que possuem uma bela história de amor, que talvez eu parasse para ouvir, se não fosse a pressa do dia-a-dia.
Chego ao meu trabalho, não estou atrasado - ao contrário. Nas cadeiras vermelhas ao lado do corredor, rostos sofridos e esperançosos me aguardam. Passo pela senhorita Marta.
- Bom dia Dr. Rafael. – Ela disse cordial.
- Bom dia Marta- Respondo e continuo meu caminho.
       As paredes do hospital são claras, combinam com as pessoas de branco que circulam por elas. Sento na minha mesa e rabisco em um pedaço de papel “Vim para lhe encontrar, dizer que esta tudo bem, dizer que eu preciso de você.” O meu primeiro paciente entra.
- Oi Andrew, tudo bem? Sentiu dores esses dias? – Perguntei inclinando-me para examiná-lo.
A cabeça sem cabelos do menino de doze anos brilha enquanto o examino. Foi difícil contar a mãe dele, que o pequeno suportaria apenas mais uns dias de vida. Mas esse é o meu trabalho. O dia termina lentamente, pela janela do hospital observo o crepúsculo que se segue. Pego a foto dela da carteira e por alguns segundos, a observo.
Passava da meia noite quando a velha poltrona gemeu, então percebi que estava fitando o teto e sentia um prazer enorme em contar as suas rachaduras. Talvez porque eu queria que as horas voassem... voassem - aquela era uma forma de distração. Peguei o papel que havia rabiscado pela manhã e escrevi embaixo “Teu olhar é negro, negro como a noite...”. Era assim que ela definia os meus olhos.
Eu estava encostado na parede, conversando com alguns amigos. Foi quando eu a vi entrando na biblioteca, mexendo em seus cabelos levemente. Entrei logo depois. Ela estava procurando um livro, me aproximei, mas nada falei, apenas a olhei. Sentia que já a conhecia, mas como? Se aquela era a primeira vez que a via?
 Acordei pela madrugada. “Esse sonho novamente...”. Levantei da poltrona grogue, tentando manter o equilíbrio. “Café” – precisava de lucidez. Resolvo fazer um tour pelos corredores do hospital, então começo a andar com passos curtos e mãos no bolso. “Hoje está tudo tão tranquilo...”, pensei. Nenhuma cirurgia, nenhum paciente de última hora. Já passei dias e noites, horas e horas, e por que não dizer anos, nesse lugar, salvando e perdendo vidas. Odeio confessar isso, mas, há muito tempo minha vida se ressume a esses corredores.
Sento um pouco em uma das cadeiras no canto do corredor, e coloco as mãos sobre o rosto. O silêncio é perturbador, ao ponto de eu apenas ouvir a minha respiração. Nesse momento volto a minha juventude novamente, ela passou rápido, e eu nem percebi. Quando resolvo voltar para a minha sala, escuto soluços vindos do quarto onde o Andrew está. Deitado na cama segurando uma cruz tosca, Andrew soluçava, enquanto pequenas lágrimas percorriam a sua face, ele rezava baixinho.
Adentrei no quarto e sentei no canto da cama. Coloquei a mão sobre a de Andrew. O garoto ardia em febre.
- Dr. Rafael é o senhor? – Ele me olhou confuso.
- Sim, Andrew sou eu. O que esta fazendo? – Perguntei.
- Estou rezando para Deus... Para que... – Sua voz falhou de repente, suas expressões faciais contorcidas.
- Dr. Me ajude, por favor! Não me deixe morrer! – Andrew pediu com sua vozinha rouca e doída.
Aquelas palavras me dilaceraram como se estivessem enfiando uma faca no meu peito lentamente.  O rosto do garoto contraia-se de dor. Saltei da cama e corri aos gritos por minha equipe médica.
A chuva do mês de julho caía lá fora. Diante de mim, um garoto talvez com poucos minutos de vida. E pela janela uma tempestade, onde se via os raios e se ouvia os trovões.
Minha equipe finalmente chegou ao quarto, todos preparados para mais uma batalha contra a morte. Os batimentos cardíacos do menino se encontravam fracos no monitor. Começamos a dá-lhe choques com o desfibrilador. Ele pulava no leito convulsivamente.  Após a sessão de choques, Andrew soltou a cruz e olhou-me com aqueles olhos grandes de criança. Forçou um sorriso e virou a cabeça. Seus batimentos viraram uma linha reta no monitor.
Passei horas parado diante da janela, olhando as gotas de chuva baterem no chão. Assistir de perto todo o tratamento daquele menino contra o câncer, e como eu, ele também morava ali, na casa dos vários cômodos – nosso hospital  não era opção dele, mas para mim foi. Uma mão tocou meu ombro.
- Dr. Rafael, a mãe do garoto esta na recepção esperando pelo senhor. – Marta disse tristonha.
- Obrigado Marta, já estou indo. – Falei baixinho, como se a minha voz pudesse ferir o meu luto, quebrar o meu silêncio. O meu vazio.
Aquele era o momento que eu mais odiava na minha profissão: dar a notícia. Principalmente às mães, ver-lhes o sofrimento misturado a certo nível de esperança quase desesperado. Os olhos marejados. A dor. A destruição da alma de alguém. Era a morte chegando ao meu lado.  Esse era momento que eu mais odeio na minha profissão, dá a noticia.
Entrei na recepção segurando a cruz tosca que estava com Andrew. A senhora de vestido azul e cabelos negros mesclados elegantemente com alguns fios brancos, levanta-se e me olha assustada quando me aproximo.
- Dr. E o meu filho? - Pergunta-me ela com a mão no coração.
Meu corpo tremia espasmodicamente e minhas mãos estavam geladas. Senti um gosto amargo na boca.
- Infelizmente, senhora... O seu filho – engoli seco - não resistiu. Fizemos o que estava ao nosso alcance – procurei as palavras – Tentamos todos os procedimentos possíveis... Achávamos que iríamos conseguir reanima-lo com o desfibrilador, mas... – A minha voz parou no meio da garganta.
- Então quer dizer que o meu Andrew, Dr... O meu filho... - Sua voz falhou no final.
O meu olhar opaco a fez entender. Ambos não queríamos pronunciar a palavra. Senti arrepios em ondas.
- Era dele – Tirei do bolso a cruz do menino e entreguei a mãe.
É impossível saber como será a reação de uma pessoa, diante de uma perda em sua vida. Mas ela simplesmente enxugou as lágrimas, segurou firme com as mãos a cruz e pediu que a levássemos para onde estava o seu filho. Penso que há tempos ela se preparava emocionalmente para esse dia. Acho que quando se sabe que a morte vem, é um pouco mais fácil aceitar os fatos, as perdas, do que quando ela chega de supressa. Volto para a minha sala e espero o dia chegar, não falta muito tempo.
Amanhece na cidade, o dia está ensolarado, nada parecido com a tempestade de ontem. A brisa toca levemente as folhas das árvores, e os pássaros cruzam o céu em voos cruzados. Pego novamente a foto dela que está em cima da minha mesa e a olho. Lembra-la dói a ponto de me faltar o ar nos pulmões.
Meu expediente chega ao fim, é hora de descansar. Começo a dirigir. Tudo o que eu queria era ir para casa, volta para ela, mas eu não posso. Então dirijo até o cemitério onde ela esta enterrada. Ajoelho-me em frente a sua sepultura, e com a manga da minha camiseta branca de médico, limpo a foto dela. Faço uma oração e antes de ir embora, deixo para ela uma flor branca, sua preferida.
Sabe, hoje eu percebo que são apenas questões da ciência, ciência e progresso. O progresso nos consome nos faz questionar, questionar quem somos o que queremos ser. Estamos sempre competindo, em busca de ser o melhor, e nessa trajetória não vemos o que perdemos, do que desistimos para sermos o primeiro. Eu sou um cientista, eu estudo vidas, eu salvo vidas. Mas eu não consegui salvá-la, como tantas outras pessoas. E não consigo estudar a minha própria vida, e é tarde demais para tentar corrigir os erros. Talvez um dia alguém me leve de volta ao começo.




segunda-feira, 2 de setembro de 2013

VAMOS LARGAR AS MULETAS E ANDAR LIVREMENTE PELA ESCRITA!

Por MARCOS - 02/09/2013 às 00:00



Algumas práticas pedagógicas empedernidas são mais resistentes que velhos hábitos e preconceitos sociais. No caso do ensino de português nas nossas escolas, fico espantadíssimo ao descobrir que muitos docentes continuam fazendo recomendações completamente equivocadas a seus alunos no que diz respeito à produção textual. Essas recomendações acabam se fossilizando no inconsciente dos estudantes e se transformando em hábitos petrificados, difíceis de abandonar.

Uma dessas recomendações sem fundamento é a de que não se deve escrever num, numa, nuns, numas e sim “em um”, “em uma”, etc., como se essas contrações, que existem na língua há mais de mil anos, representassem algum erro dos mais cabeludos. Pois não representam: basta abrir qualquer bom escritor, do século XVI até os dias de hoje, para comprovar que essas contrações são perfeitamente naturais, bonitas e elegantes. E sempre me pergunto: por que só proíbem o num e não as outras contrações com a preposição em? Por que também não se ensina a escrever coisas como “em o”, “em a”, “em esse”, “em aquele”? Por que só o pobre do num e sua família sofrem tamanha perseguição? Liberdade para o num!

Outra recomendação que deveria ser extirpada imediatamente é a de que se deve evitar o uso de mas e, no lugar dessa conjunção, usar seus supostos equivalentes porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto. Disso resulta uma obsessão no uso de porém, que torna o texto muito mais deselegante, pesado e estridente, enquanto as outras opções ficam mofando. O problema aqui é muito simples: mas é uma conjunção, isto é, um conectivo, uma palavra funcional muito importante para o encadeamento das ideias no texto. Além disso, mas também é a única conjunção adversativa da língua, de modo que seu uso é incontornável, obrigatório e fundamental.

Embora algumas gramáticas e dicionários continuem a dizer que entre as conjunções adversativas se incluem as formas porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, os estudos contemporâneos rejeitam essa classificação e incluem esses itens na classe dos advérbios. Assim procedem em suas obras gramaticais, por exemplo, Mário Perini, Evanildo Bechara, Maria Helena de Moura Neves, José Carlos de Azeredo, Ataliba de Castilho, além do autor destas linhas. Ao contrário de mas, esses itens, por serem advérbios, admitem uma ampla mobilidade no interior do enunciado. Observe os dois grupos abaixo:

✔Eu tentei te ligar, mas meu telefone ficou sem bateria.
✘ Eu tentei te ligar, meu telefone mas ficou sem bateria.
✘ Eu tentei te ligar, meu telefone ficou mas sem bateria.
✘ Eu tentei te ligar, meu telefone ficou sem bateria mas.



✔Eu tentei te ligar, porém meu telefone ficou sem bateria.
✔Eu tentei te ligar, meu telefone porém ficou sem bateria.
✔Eu tentei te ligar, meu telefone ficou porém sem bateria.
✔Eu tentei te ligar, meu telefone ficou sem bateria porém.

Se substituirmos o porém por outra palavra da mesma classe e com sentido parecido (como infelizmente), veremos que essa palavra se comporta exatamente como um advérbio. Faça o teste  nas frases acima. Além disso, como os demais advérbios, as formas porém, contudo, entretanto e no entanto podem vir antecedidas da conjunção aditiva e, coisa que não ocorre com mas:


E no entanto é preciso cantar,
mais que nunca é preciso cantar,
é preciso cantar e alegrar a cidade...
("Marcha da Quarta-feira de Cinzas", Vinícius de Moraes e Carlos Lyra)



✘E mas é preciso cantar...


A verdadeira conjunção adversativa, portanto, é mas. Num grande acervo de gravações de língua urbana culta falada (o projeto NURC) ela ocorre nada menos do que 523 vezes. Os advérbios que implicam contraste estão praticamente restritos à fala formal e/ou à escrita mais monitorada. No mesmo acervo do NURC, porém ocorre apenas 5 vezes; entretanto, todavia e contudo simplesmente não aparecem, ao passo que no entanto é empregado 6 vezes, 4 das quais por um mesmo falante em situação formal (aula universitária), o que mostra tratar-se de um hábito linguístico individual.

É inadmissível, portanto, a prática que ainda se perpetua entre muitos docentes de aconselhar seus alunos a “evitar a repetição de mas” e substituir mecanicamente a conjunção adversativa por seus supostos “equivalentes” porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto... Não existe equivalência alguma: são palavras de classes gramaticais diferentes e, assim, exercem funções sintático-semânticas muito distintas na construção do enunciado. A conjunção mas é um instrumento textual-discursivo indispensável. A produção de textos bem construídos não se limita a evitar repetições nem muito menos a substituir mecanicamente determinadas palavras por outras.

Por fim, e igualmente prejudicial à boa compreensão do funcionamento da língua, é a mania, herdada da escola, de evitar o uso de que e, no lugar dele, empregar o qual. O resultado é um pântano de erros gritantes. Por quê?

O pronome relativo o qual deve ser empregado quando o verbo da oração subordinada é transitivo indireto e seu complemento é recuperado pelo pronome relativo, combinado com a preposição regida pelo verbo:

✔A Índia é um país com o qual o Brasil mantém um intenso comércio.
✔A ponte pela qual passamos ontem foi levada pela enxurrada de hoje.
✔Esses são livros sem os quais meu trabalho não seria possível.
✔O ônibus no qual viajamos era muito desconfortável.



Por isso, é preciso abandonar a prescrição incompleta de “evitar o que” e apresentar aos alunos opções realmente válidas para a construção de seus textos. A ideia de substituir todo e qualquer que por o qual só produz resultados como os seguintes (todos colhidos na internet):

✘Eu aluguei um imóvel o qual fui morar com meus pais já idosos, 62 e 60 anos.
✘Chegamos a um ponto o qual eu nunca imaginei chegar.
✘Kleberson retorna ao Atlético-PR, clube o qual o revelou para o futebol
✘Um fato o qual não posso deixar de registrar!
✘A empresa o qual você está conhece bem o mercado e as estratégias dos concorrentes?
✘Olá! Tive meu nome inscrito no Serasa indevidamente em uma cidade o qual nunca estive.

Os problemas são vários e graves:

Uso errado de o qual como sujeito ou como objeto direto, quando bastaria o simples que: “Kleberson retorna ao Atlético-PR, clube que [sujeito] o revelou para o futebol”; “um fato que [objeto direto] não posso deixar de registrar”.
Ausência da preposição diante do pronome relativo, preposição regida pelo verbo: “Chegamos a um ponto ao qual eu nunca imaginei chegar”.
Falta de concordância de gênero e de número, como se o qual fosse uma palavra invariável, quando de fato se flexiona: “A empresa na qual você está”; “em uma cidade na qual nunca estive”; “pessoas com as quais eu gosto de trabalhar” etc.
Não custa insistir: a maneira mais adequada para abordar esse fenômeno em aula é o recurso a textos autênticos, bem escritos, nos quais ocorra o pronome relativo devidamente empregado, como abaixo:

Limpeza é item com o qual consumidor mais se importa



→ que termo da sentença o qual retoma?
R.: Item.
→ por que se empregou o qual no masculino nessa sentença?
R.: Porque ele retoma item, que é masculino singular.
→ por que antes do pronome aparece com?
R.: por causa do verbo importar-se: quem se importa, se importa com alguma coisa ou alguém.
→ se no lugar de item tivéssemos coisa, como ficaria a sentença?
R.: Limpeza é coisa com a qual consumidor mais se importa.

Um pouco de reflexão linguística simples e fácil ajuda sempre!

O resultado das velhas e descabidas recomendações são textos repletos de “em um”, “porém”, “o qual”, “o mesmo”, “possuir”, “diferenciado” etc. sem, no entanto, o mínimo de coesão lexical, de boa construção sintática, de elegância e simplicidade de estilo. Aliás, essas muletas textuais são os principais sintomas de um texto ruim, empolado e mal escrito. Quando começo a ler um texto e logo aparece alguma delas, já sei que o que vem a seguir não é bom. Vamos então jogar fora essas muletas e tentar caminhar mais livremente pela escrita, sempre com o apoio da boa leitura e da boa reflexão sobre o funcionamento da língua.


Por: Sueilton Junior Braz de Lima
Fonte:
http://e-proinfo.mec.gov.br/eproinfo/blog/preconceito/vamos-largar-as-muletas-e-andar-livremente-pela-escrita.html

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

PROJETO: BLOG COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA


O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/UERN, através do Subprojeto ‘Ler para retextualizar: interagindo com as linguagens’, do Departamento de Letras Vernáculas – DLV, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, oportunizará o contato da comunidade escolar, especialmente os discentes dos 3ºs anos do Ensino Médio regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos), dos turnos matutino e noturno da escola-campo, a saber: Escola Estadual Profª “Maria Edilma de Freitas”, da cidade de Pau dos Ferros, do Estado do Rio Grande do Norte, o acesso ao suporte textual Blog como ferramenta didático-pedagógico, intitulado de “Diálogos & Textos”, já que acreditamos ser fundamental à comunicação, à interação e produção escritas por parte dos discentes locais.
Nesse sentido, o este suporte textual: o blog como ferramenta pedagógica, possibilitará a interlocução entre os sujeitos aprendizes da escola-campo já referenciada, através da exploração e/ou produção dos diversos gêneros textuais - discursivos, que serão lidos e/ou produzidos pelos alunos durante as aulas de Língua Portuguesa da instituição in loco, concomitantemente à execução do projeto didático-pedagógico: blog como mediador do processo de ensino-aprendizagem.
Para tanto, as produções serão previamente lidas/socializadas pelo professor e alunos bolsistas, para que possamos coletivamente/interativamente selecionar, corrigir, retextualizar, de maneira que tais textos atendam aos objetivos propósitos, que será a modalidade culta da língua portuguesa, para que se possamos postar os textos dos discentes, de maneira que todos tenham acesso a esse universo textual/discursivo, através de sua leitura, do comentário, da rextualização, bem com dos compartilhamentos de tais gêneros.
Com efeito, serão oportunidades ímpares de aprendizagens entre a equipe pibidiana do supracitado subprojeto com o habitat escolar, através da exploração, socialização, postagens de textos: verbais, não verbais e mistos, bem como, a interação entre os interlocutores virtuais, haja vista que esse suporte textual, tem se caracterizado como uma ferramenta essencial para que os limites físicos das salas de aula sejam rompidos com novas possibilidades de linguagens, que novos sentidos sejam obtidos através das interlocuções, “enunciações dos alocutários” (BAKHTIN, 1995).
Assim sendo, desencadearão novas estratégias didático-pedagógicas voltadas à melhoria do ensino de Língua Portuguesa através da leitura, da escrita, da produção textual, sendo estas consubstanciadas nas teorias modernas na linguagem, principalmente tendo na enunciação e/ou interação entre os sujeitos, o ponto de partida desse projeto.
Portanto, este projeto didático-pedagógico trará novas possibilidades de leitura e de escrita “não silenciadas” (MUSSALIN, 2005), haja vista a produção e/ou circulação de textos, serão mediante o suporte virtual o blog: Diálogos & textos, logo, desencadearão novas retextualizações, senão também publicações de novos textos por parte dos alunos, bem como possibilidades plurais de leitura e de escrita, voltadas as sua efetivação e interação.






POSTADO POR: Christiane Mendes, Cristiane Lins, Francisco Elieudes e José Adalberto.


domingo, 18 de agosto de 2013

O que ensinar em Língua Portuguesa


O que ensinar em Língua Portuguesa

O ensino atual da disciplina foca a prática no dia a dia e mescla atividades de fala, leitura e produção de textos desde cedo

Beatriz Santomauro (bsantomauro@fvc.org.br)

Página 1 de 7>>|
Fotos: Gustavo Lourenção e Cacá Bratke
PRODUÇÃO E REFLEXÃO (à esq.)  Nas situações práticas da análise e construção de textos, os estudantes sistematizam regras. LEITURA DIÁRIA (à dir.)  Ao ler gêneros e autores diversos, a turma passa a reconhecer as características das obras
Até os anos 1970, o processo de aprendizagem da Língua Portuguesa era comparado a um foguete em dois estágios, como bem pontuam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). O primeiro ia até a criança ser alfabetizada, aprendendo o sistema de escrita. Já o seguinte começaria quando ela tivesse o domínio básico dessa habilidade e seria convidada a produzir textos, notar as normas gramaticais e ler produções clássicas.

A partir dos anos 1980, o ensino não é mais visto como uma sucessão de etapas, e sim um processo contínuo. "O aluno precisa entrar em contato com dificuldades progressivas do conteúdo. Desse modo, desenvolve competências e habilidades diferentes ao longo dos anos", diz Maria Teresa Tedesco, professora do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda não compreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas características e normas.

Essa nova concepção apresentava inúmeras diferenças em relação a perspectivas anteriores. Desde o século 19 até meados do 20, a linguagem era tida como uma expressão do pensamento. Ler e escrever bem eram uma consequência do pensar e as propostas dos professores se baseavam na discussão sobre as características descritivas e normativas da língua. "O objeto de ensino não precisava ser a linguagem", explica Kátia Lomba Bräkling, coautora dos PCNs e professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo.
Os primeiros anos da disciplina deveriam garantir a aprendizagem da escrita, considerada um código de transcrição da fala. Dois tipos de método de alfabetização reinaram por anos: os sintéticos e os analíticos. Os primeiros começavam da parte e iam para o todo, mostrando pequenas partes das palavras, como as letras e as sílabas, para, então, formar sentenças. Compõem o grupo os métodos alfabético, fônico e silábico.
Já os analíticos propunham começar no sentido oposto, o que garantiria uma visão mais ampliada do aluno sobre aquilo que estava no papel, facilitando o seu entendimento. Pelo modelo, o ensino partia das frases e palavras, decompostas em sílabas ou letras. "Nesses métodos, o essencial era o treinamento da capacidade de identificar, suprimir, agregar ou comparar fonemas. Feito isso, estaria formado um leitor", explica Maria do Rosário Longo Mortatti, coordenadora do grupo de pesquisa em História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Marília.

Aqueles que já dominavam essa primeira etapa de aprendizagem passavam para a seguinte. Na escrita, os alunos deveriam reproduzir modelos de textos consagrados da literatura e caprichar no desenho do formato das letras. Para fazer uma leitura de qualidade, o estudante tinha como tarefa compreender o que o autor quis dizer - sem interpretar ou encontrar outros sentidos.
As aulas focavam os aspectos normativos e descritivos da língua e textos não literários - como o acadêmico e o jornalístico - não eram estudados. "O coloquial ou informal eram considerados inadequados para ser trabalhados em sala de aula", explica Egon de Oliveira Rangel, professor do Departamento de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Postado por Clébison Lopes

PROJETO JORNAL ESCOLAR


O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência de Letras Português está desenvolvendo junto à escola campo, projetos que possibilitem o melhoramento do desempenho dos alunos na sala de aula através do contato com gêneros textuais diversificados.
O projeto Jornal Escolar tenta resgatar o interesse pela leitura do jornal impresso e a produção do mesmo, uma vez que, com a chegada dos novos recursos tecnológicos essa prática tem se tornado menos comum, nessa perspectiva, com o intuito de se adequar ao contexto do aluno e trabalhar oralidade e escrita, produziremos também um jornal televisivo.
Com o apogeu das novas tecnologias, a internet, o celular, o tablet tem se tornado cada vez menos recorrente uma prática que nunca foi tão comum entre os jovens: ler e/ou assistir jornal. Com a chegada desses novos recursos não é uma fácil fazer com que esse público se interesse pela leitura de jornais, mas é inegável a influência que ele exerce na formação de leitores habituais e cidadãos bem informados. Para a maioria das pessoas conectar-se ao mundo pressupões conectar-se à internet, ler jornais, revistas, boletins informativos e assistir telejornais. Por outro lado, não estar atento a esse tipo de informação significa estar omisso ao que acontece ao nosso redor, o que implica exclusão social, estar inapto a dialogar com as pessoas, expressar suas opiniões, isto é, se impor enquanto cidadão na sociedade.
É preciso portanto, não encarar a evolução tecnológica como um recurso negativo para a leitura de textos jornalísticos, muito pelo contrário, é preciso reconhecer que o jornal acompanha essa modernização, o que precisa ser feito é educar nesse sentido, inclusive porque o usuário de internet tem em suas mãos o recurso mais rápido para se obter informação em decorrência da rapidez com que um conteúdo é veiculado nesse meio. 

Gostou do projeto? Faça download aqui e visualize a versão completa. 

Postado por Clébison Lopes




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

PORTUGUÊS OU BRASILEIRO? NÃO EIS A QUESTÃO

Bagno
Por: Marcos Bagno

         O ato social, cultural e político de nomear uma língua é um processo muito mais complexo e conflituoso do que a maioria das pessoas imagina. Antes de tudo, justamente por ser um ato político, ele escapa alegremente do domínio restrito dos especialistas em linguística e exige uma abordagem sócio-histórica bem embasada. E quando aplicamos essa abordagem às diferentes situações sociolinguísticas do mundo, encontramos, no mínimo, duas tipologias bem distintas: (1) línguas iguais com nomes diferentes e (2) línguas diferentes com nomes iguais.

          Para ilustrar o tipo (1), vamos examinar o caso do híndi e do urdu. O urdu é a língua oficial do Paquistão. Como língua falada, o urdu é praticamente indistinguível do híndi, língua oficial mais importante da Índia. A diferença entre as duas línguas está no fato de que o urdu é utilizado como língua escrita por falantes muçulmanos e se escreve numa forma ligeiramente adaptada do alfabeto persa que, por sua vez, é uma variante do alfabeto árabe. O híndi, por sua vez, se escreve no alfabeto devanágari, originalmente empregado para o sânscrito, e é utilizado pelos falantes de religião hindu. A rivalidade histórica entre Paquistão e Índia, que gerou guerras sanguinárias entre os dois países, junto com a divisão religiosa, é o que explica a atribuição de nomes diferentes a um único sistema linguístico.

          A situação das línguas da Índia e do Paquistão se reproduz em certa medida na antiga Iugoslávia. Depois da sangrenta divisão da antiga confederação socialista em diferentes pequenos Estados independentes, a língua que sempre se chamou servo-croata recebeu três nomes distintos: sérvio, croata e bósnio. As diferenças entre o sérvio e o croata sempre se restingiram à escrita: os croatas, católicos romanos, empregam o alfabeto latino; os sérvios, católicos ortodoxos, empregam o alfabeto cirílico; os bósnios, muçulmanos, empregam tanto o alfabeto latino quanto o cirílico. Com a criação dos Estados independentes da Croácia e da Bósnia, a língua, que para os linguistas é um sistema único com variedades locais que não impedem a intercompreensão dos falantes, passou a ser designada com nomes distintos, nomes de países, de nações.

          A situação se inverte no tipo (2) e fica clara quando analisamos o caso da chamada “língua árabe”. Por razões de natureza religiosa, o que os falantes de “árabe” chamam de “árabe” é a língua na forma como ela se encontrava quando o profeta Maomé redigiu o livro sagrado do Islã, o Corão, no século VII. Essa língua, também chamada de “árabe clássico”, é uma língua morta, não é falada por ninguém como idioma materno, está restrita à literatura religiosa. Nos diferentes países chamados “árabes”, existem formas de falar tão diferentes entre si quanto, por exemplo, o português e o italiano, sem possibilidades de intercompreensão entre seus falantes, e não poderia ser de outra maneira. É uma ilusão ideológica achar que num território imenso, que vai do extremo ocidental da África até a fronteira do Iraque com o Irã, passando por todo o Oriente Médio, se fala uma só e única “língua árabe”.

        No entanto, essa ilusão ideológica é sustentada pela própria cultura “árabe” tradicional, já que na maioria dos 22 países “árabes” o sistema educacional se dedica exclusivamente ao ensino do “árabe clássico” e de sua forma mais modernizada, o “árabe-padrão”, enquanto que os chamados “dialetos” particulares falados nos diferentes países não recebem apoio institucional nem são valorizados, embora sejam as verdadeiras línguas maternas nacionais. É inconcebível que 300 milhões de pessoas, distribuídas por um território tão dilatado, falem uma mesma e única língua “árabe”.

         O caso do português também entra nessa segunda situação, ou seja, línguas diferentes do ponto de vista estrutural e dos usos (fonológico, morfossintático, semântico, pragmático etc.), mas que recebem o mesmo nome. Já sabemos que o nome das línguas não depende das opiniões dos especialistas. No caso do Brasil, ocorreu, na década de 1930, uma tentativa de designar a nossa língua majoritária como “brasileiro”, mas o projeto de lei que previa essa designação se afogou no meio do turbilhão político que acabou por instituir o Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas.

         Uma análise racional pode partir da seguinte pergunta: por que, 500 anos depois do desmoronamento do Império Romano, a bibliografia especializada já reconhece a existência de “línguas” como o francês, o castelhano e o português, mas não reconhece, 500 anos depois da expansão marítima portuguesa, a existência de diversas “línguas” derivadas do português quinhentista? Por que a mesma porção de tempo vale para uma classificação (línguas românicas: francês, espanhol, português etc.) mas não vale para outra (“variedades” do português)?

       As pesquisas linguísticas empreendidas no Brasil têm demonstrado amplamente que o português europeu e o português brasileiro já são duas línguas diferentes, tanto do ponto de vista estrutural (fonológico, morfossintático, semântico), quanto do ponto de vista pragmático, discursivo etc. Seja qual for o nome que se dê a cada uma dessas línguas, o importante é reconhecer sua diferença e, principalmente, reconhecer que o português brasileiro é uma língua plena, autônoma, um sistema linguístico perfeitamente regrado e que nada tem de inferior a língua nenhuma do mundo, muito menos ao português europeu. Pelo contrário, o português brasileiro apresenta características únicas, que atraem a atenção dos linguistas estrangeiros, intrigados com esses fenômenos estruturais que isolam a nossa língua dentro do conjunto geral das línguas românicas.

       A designação da nossa língua como português ou brasileiro depende única e exclusivamente de continuarmos ou não amedrontados por um fantasma colonial que teima em assustar ideologicamente aqueles que ainda consideram o povo brasileiro uma “mistura de raças” e, por isso, um povo incapaz de ter sua língua própria.

Por: Sueilton Junior Braz de Lima

domingo, 11 de agosto de 2013

O CONDE E O PASSARINHO – RUBEM BRAGA
   Acontece que o Conde Matarazzo estava passeando pelo parque. O Conde Matarazzo é um Conde muito velho, que tem muitas fábricas. Tem também muitas honras. Uma delas consiste em uma preciosa medalhinha de ouro que o Conde exibia à lapela, amarrada a uma fitinha. Era uma condecoração (sem trocadilho).
   Ora, aconteceu também um passarinho. No parque havia um passarinho. E esses dois personagens - o Conde e o passarinho - foram os únicos da singular história narrada pelo Diário de São Paulo.
Devo confessar preliminarmente que entre um Conde e um passarinho, prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é por nada. Nem sei mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um passarinho canta e voa. O Conde não sabe gorjear nem voar. O Conde gorjeia com apitos de usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil, vozes dos operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham para o Conde. O Conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o Conde é um industrial, e o Conde é Conde porque é industrial. O passarinho não é industrial, não é Conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe cantar, sabe voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho.
    Eu quisera ser um passarinho. Não, um passarinho, não. Uma ave maior, mais triste. Eu quisera ser um urubu.
   Entretanto, eu não quisera ser Conde. A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser Conde. Não amo os Condes. Também não amo os industriais. Que eu amo? Pierina e pouco mais. Pierina e a vida, duas coisas que se confundem hoje, e amanhã mais se confundirão na morte. Entendo por vida o fato de um homem viver fumando nos três primeiros bancos e falando ao motorneiro. Ainda ontem ou anteontem assim escrevi. O essencial é falar ao motorneiro. O povo deve falar ao motorneiro. Se o motorneiro se fizer de surdo, o povo deve puxar a aba do paletó do motorneiro. Em geral, nessas circunstâncias, o motorneiro dá um coice. Então o povo deve agarrar o motorneiro, apoderar-se da manivela, colocar o bonde a nove pontos, cortar o motorneiro em pedacinhos e comê-lo com farofa.
   Quando eu era calouro de Direito, aconteceu que uma turma de calouros assaltou um bonde. Foi um assalto imortal. Marcamos no relógio quanto nos deu na cabeça, e declaramos que a passagem era grátis. O motorneiro e o condutor perderam, rápida e violentamente, o exercício de suas funções. Perderam também os bonés. Os bonés eram os símbolos do poder. Desde aquele momento perdi o respeito por todos os motorneiros e condutores. Aquilo foi apenas uma boa molecagem. Paciência. A vida também é uma imensa molecagem. Molecagem podre. Quando poderás ser um urubu, meu velho Rubem?
   Mas voltemos ao Conde e ao passarinho. Ora, o Conde estava passeando e veio o passarinho. O Conde desejou ser que nem o seu patrício, o outro Francisco, o Francisco da Umbria, para conversar com o passarinho. Mas não era aquele, o São Francisco de Assis, era apenas o Conde Francisco Matarazzo. Porém, ficou encantado ao reparar que o passarinho voava para ele. O Conde ergueu as mãos, feito uma criança, feito um santo. Mas não eram mãos de criança nem de santo, eram mãos de Conde industrial. O passarinho desviou e se dirigiu firme para o peito do Conde. Ia bicar seu coração? Não, ele não era um bicho grande de bico forte, não era, por exemplo, um urubu, era apenas um passarinho. Bicou a fitinha, puxou, saiu voando com a fitinha e com a medalha.
   O Conde ficou muito aborrecido, achou muita graça. Ora essa! Que passarinho mais esquisito!Isso foi o que o Diário de São Paulo contou. O passarinho, a esta hora assim, está voando, com a medalhinha no bico. Em que peito a colocareis, irmão passarinho? Voai, voai, voai por entre as chaminés do Conde, varando as fábricas do Conde, sobre as máquinas de carne que trabalham.

Postado por: Maria Daiane Peixoto